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Sugestão de Tema: O Mal Triunfa

  • Foto do escritor: ricardorpresende
    ricardorpresende
  • 19 de abr. de 2020
  • 3 min de leitura

Um tempo atrás, eu iniciei a série de sugestões de tema para contos visando a antologia Sociedade dos Contos Fantásticos (clique na imagem ao lado para ler o edital e fazer sua inscrição) e é chegado o momento de escrever o segundo texto sobre o assunto. A dica de hoje é para quem gosta de fugir do previsível e não tem pena do leitor.

A maioria absoluta das histórias de modo geral pode até trazer desenvolvimentos bem diferentes, mas costumam convergir para um ponto em comum: o final é feliz. Às vezes, o fim até é triste, mas o objetivo do protagonista é alcançado.

Existe uma lógica por trás disso. O leitor cria um vínculo com o mocinho ao longo do enredo, torcendo para ele a cada desafio. Nós normalmente nos identificamos muito mais com o protagonista do que com o antagonista.

A minha sugestão é justamente desafiar essa lógica e vou trazer duas formas de como trazê-las para um conto.


Protagonista sim, mocinho não

Quando se fala em protagonista, a maioria das pessoas pensa imediatamente no herói. Como é isso que quase sempre acontece, essa associação errada acaba se perpetuando. Entretanto, protagonista é, segundo o dicionário Priberam, aquele que "ocupa o primeiro lugar em qualquer acontecimento". Em uma história, ele é essencialmente aquele em torno do qual se constrói a trama.

Um enredo pode ser construído de forma que o protagonista seja o vilão e o herói, o antagonista. O conto pode trazer basicamente o ponto de vista do homem que quer destruir o vilarejo, assassinar o rei ou acabar com a vida no planeta.

A forma como esse protagonista é apresentado pode levar o leitor a amá-lo ou odiá-lo, dependendo da intenção do escritor. A construção desse protagonista maléfico é tão importante como a de qualquer personagem principal. Ele é insano? É motivado por questões particulares, como um ente querido doente? Quer vingança contra alguém? São perguntas interessantes que podem ajudar a enriquecer o seu vilão.

Uma dica para quem já tem uma história escrita é mostrar algum evento do passado do seu antagonista. Por exemplo, imagine como seria interessante se J. K. Rowling publicasse um conto mostrando um crime cometido por Lord Voldemort na perspectiva do icônico Lorde das Trevas. Além de ser uma atração para os fãs da saga por si só, seria uma oportunidade de conhecermos melhor o personagem, com nuances de pensamento que só temos quando o ponto de vista daquele indivíduo é narrado.

O protagonista falha

Normalmente, um enredo segue alguns passos básicos. Temos a apresentação do cenário e dos personagens, então há um gancho para iniciar a trama. Em algum ponto, há obstáculos, sendo que é costume haver algum evento maior que cause uma transformação no protagonista. Eventualmente, há o confronto final entre o herói e o vilão, que pode ocorrer de formas análogas, mas geralmente está lá.


Agora, imagine se Frodo falhasse e Sauron ficasse com o anel no final? E se o Harry fosse derrotado por Voldemort? Um cenário em que a profecia falha ou que o herói não vence o inimigo é algo inusitado e, de fato, pouco explorado.

Esse caminho de narrativa exige alguns cuidados. Um enredo "ladeia abaixo" é uma experiência frustrante de leitura. Isso ocorre quando tudo vai dando errado, criando a expectativa de que dará certo no final. Este fim, porém, é somente mais um fracasso. Ao invés disso, se a intenção é terminar com a derrota, o caminho da narrativa pode mostrar uma série de vitórias do protagonista, dando a entender que ele triunfará, e a queda surge ao fim como uma surpresa. O herói pode ser mostrado como arrogante ou displicente, por exemplo. São características que podem levar o leitor, inclusive, a torcer contra o herói.


A dica que deixo para aqueles que têm suas histórias construídas é trazer um evento do passado do protagonista em que ele falhou. Já li vários livros cujos protagonistas carregam o fantasma de um erro crucial no passado. Escrever um conto mostrando essa situação é uma ideia interessante.

P.S.: Perdão pelos spoilers de Senhor dos Anéis e Harry Potter, mas acho que são obras antigas o bastante para que seus finais possam ser citados, ainda mais de forma tão pouco detalhada.

Conclusão

O mal triunfar no final de um conto é uma forma de construir um enredo interessante, fugindo da rota mais tradicional da contação de histórias. Entretanto, deve-se tomar cuidado para que a vontade de fazer diferente não faça com que haja falhas na construção do enredo e das personagens, que devem ser sempre cuidadosas. Para autores com histórias anteriores, é uma boa forma de aprofundar personagens já existentes. O Mal Triunfa não é o tema mais fácil, mas traz excelentes histórias quando é bem utilizado.

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