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Resenha: Elantris

  • Foto do escritor: ricardorpresende
    ricardorpresende
  • 13 de mai. de 2021
  • 5 min de leitura

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Sinopse

Elantris era a capital de Arelon: colossal, linda, radiante e repleta de seres benevolentes que usavam suas poderosas habilidades mágicas em benefício de todos. Mas, há dez anos, uma maldição misteriosa devastou Elantris e os corpos de seus habitantes – que agora vivem a decrepitude em intensa dor. Uma grande história de fantasia, mistério, romance, humor, disputa religiosa e conflitos políticos que demonstra por que Brandon Sanderson tem sido considerado, inclusive pelo mestre George R.R. Martin, um dos grandes autores de fantasia épica da atualidade.


Enredo

Elantris é uma narrativa focada em três personagens principais: Raoden, Sarene e Hrathen. O livro já começa com o primeiro deles, príncipe Raoden, sendo tocado pela Shaod, transformando-se em um dos decrépitos elantrianos. Sarene, por sua vez, chega a Arelon como a noiva do príncipe, recebendo a notícia de que ele falecera, fazendo com que seu casamento fosse consumado, como previsto em contrato anteriormente assinado. Já Hrathen é um gyorn (uma alta posição na hierarquia da religião Shu-Dereth) e chega a Arelon dez anos após a Shaod ter se tornado uma maldição, tendo como objetivo converter toda a população local em três meses, prazo dado pelo Wyrn (líder supremo da religião Shu-Dereth).


Boa parte da história gira em torno da maldição de Elantris. A cidade está em estado de total decrepitude e os habitantes vivem em penúria total. Seus corpos jamais se curam, acumulando dores uma após a outra até que estas levam os portadores à loucura completa. Exilado em Elantris, Raoden é quem mais passa tempo buscando a razão que levou à mudança na Shaod. A resposta ao enigma surge no final, mas algumas peças foram cuidadosamente colocadas ao longo do enredo e permitem que o leitor formule algumas teorias antes da resposta.


Sarene é uma política nata. Ela mente se necessário e sabe ser convincente, fazendo com que as coisas aconteçam sempre de acordo com a sua vontade. Perspicaz e proativa, ela consegue se aproximar de um grupo que conspirava contra o rei, assumindo o lugar que, curiosamente, pertencia ao seu "falecido" marido. É justamente Sarene que enxerga o perigo em Hrathen. O gyorn esteve presente em Duladel antes dessa cidade ser dominada pela Shu-Dereth, o que faz com que ela se faça atenta, pois sabe bem que palavras podem ser tão poderosas quanto espadas.


Hrathen é visto por muitos como o antagonista do livro, e ele realmente tem essa relação, principalmente com a Sarene. O sacerdote tem a intenção real de converter a população, pois quer evitar derramamento de sangue na conquista da cidade. Ele interpreta que o avanço do Império de Jaddeth (forma como o Shu-Dereth se refere a Deus) é inevitável e desejável, entendendo que a conversão é a melhor forma de isso acontecer. Na organização da religião em Arelon, Hrathen conhece Dilaf, um homem de fé distorcida pelo fanatismo e por um ódio que arde em seu olhar quando o homem vê os elantrianos.


A trama da história avança de forma muito organizada, sempre conduzida pelos três personagens mais importantes. Os duelos entre Sarene e Hrathen são muito divertidos, cada um levando a melhor em certos momentos. Os dois são sagazes e quebram as regras quando necessário, mentindo e atuando com a intenção de prejudicar os planos do outro.


Em Elantris, as coisas demoram um pouco para acontecer, mas é muito interessante a forma como os mistérios da cidade são revelados aos poucos. Há informações que parecem triviais nas conversas entre Raoden e Galladon, grande amigo do príncipe na cidade amaldiçoada, mas que são muito importantes, inclusive para a motivação de um dos antagonistas da história.


Também é muito do meu agrado que Elantris seja um livro de volume único. Ou seja, nada de ler cinquenta livros com milhares de voltas desnecessárias no enredo somente para vender mais. A história tem início, meio e fim e deixa de legado um universo rico que pode ser aproveitado para várias outras.

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Personagens

Raoden: O príncipe é o primeiro personagem principal apresentado e ele tem um defeito que considero crucial. Perfeito demais. Falta nele o conflito emocional e psicológico, a hesitação. Raoden é quem mais permite que o leitor mergulhe na cidade amaldiçoada de Elantris, mas ele mesmo é desinteressante. O arco dele não é ruim, pois é muito importante para a evolução da história e traz muitos eventos empolgantes, entretanto, eu gostaria de ver um personagem principal que realmente apresentasse uma evolução pessoal ao longo da trama, não um ser que já é perfeito do início ao fim.


Sarene: A princesa é inteligente e astuta, não passando nem perto de ser aquele vaso de porcelana que só serve para ser admirado por sua beleza. Nesse sentido, eu gosto muito dela. No aspecto de "perfeição", ela também é bem melhor que o Raoden. Sarene tem inseguranças e defeitos, tornando-a mais real, mais próxima do leitor. É muito mais fácil se identificar com ela, sem dúvidas. Ainda assim, eu senti falta de uma evolução pessoal mais concreta da personagem. Ela até percebe algumas de suas falhas, mas tem dificuldade em crescer a partir disso. Ainda assim, o saldo é bem positivo para mim.


Hrathen: Quase sempre, quando há uma protagonista feminina, ela se torna minha personagem favorita na obra. Elantrian foi uma rara exceção. Hrathen é o personagem mais complexo da obra e, embora tenha atitudes de um antagonista, ele sempre busca justificar suas ações e é percebido claramente que ele pensa estar fazendo um bem para os demais. O gyorn passa por uma forte evolução pessoal ao longo da obra, entendendo melhor a si mesmo e crescendo até chegar ao ápice no momento final. Este homem é definitivamente o personagem mais verossímil, mais humano do livro.


Ambientação

Em um livro cujo nome é dado baseado em uma cidade, é impossível não destacar uma sessão da resenha para falar um pouco sobre o tema. Brandon Sanderson criou um universo muito rico, tanto na caracterização da população de Arelon como na forma como consegue ilustrar bem locais que sequer aparecem na história, vide Fiordell. Mais impressionante ainda é o fato de isso ser feito sem que seja maçante. Já li inúmeras fantasias em que as cem primeiras páginas foram um tédio. Não passa nem perto de ser o caso de Elantris. Entretanto, há dois pontos que precisam ser enfatizados.


Economia

Arelon é um reino de mercadores e a relação econômica se faz muito importante. O próprio sistema de títulos de nobreza é baseado em dinheiro. O rei exige que os nobre comprovem suas posses para manterem sua posição perante a sociedade. Se eu falar muita coisa, darei spoilers, então serei superficial e direi que Brandon Sanderson é um ótimo escritor, mas seria um economista catastrófico. As explicações que ele dá para uma série de fatos importantes na ambientação, especialmente sobre escolhas dos mercadores, são tudo menos verossímeis e, em alguns pontos, prejudicam até mesmo a credibilidade do enredo. Se não fosse uma obra de fantasia, isso teria um peso maior. Esse é um dos motivos pelo qual eu não dei cinco estrelas para o livro.


Elantris

A forma como os atingidos pela Shaod são explicados é cheia de detalhes, entre eles o fato de que os corações deles não batem mais. Essa riqueza permite que nós entendamos melhor a situação deles, que não é ruim simplesmente porque eles ficam feios. A questão da dor que nunca vai embora é muito bem bolada e facilita a empatia até mesmo pelos elantrianos mais selvagens.


É muito legal como a cidade é mostrada como um organismo vivo que está morrendo. Pelos olhos de Raoden, enxergamos uma cidade que não deveria estar tão destruída, afinal, apenas dez anos não transformariam algo de proporções épicas em ruínas com séculos de abandono. A forma como isso é explicado é interessante e muito bem encaixado no enredo.


Conclusão

Elantris é uma leitura muito divertida e eu diria que qualquer fã de fantasia vai apreciar a obra. Embora haja a presença de um protagonista raso e outra mediana, Hrathen compensa em profundidade. O enredo é bem conduzido e Brandon Sanderson consegue capturar a atenção do leitor do início ao fim da obra. Meu único porém fica no ponto em que eu gostaria que a parte econômica, tão importante para o livro, tivesse sido mais bem pensada.



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