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Resenha: Kingdom of Ash

  • Foto do escritor: ricardorpresende
    ricardorpresende
  • 21 de jun. de 2020
  • 8 min de leitura

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Em seu sétimo livro, a série Trono de Vidro chegou ao final. O encerramento trazia a promessa do tão esperado confronto entre Aelin e Erawan e a expectativa sobre como a protagonista escaparia das garras de Maeve após os eventos em Empire of Storms. Após um sexto livro focado em Chaol e que arrefeceu boa parte da ansiedade pela continuação, Kingdom of Ash trouxe de volta a intensidade da narrativa que tanto marcou essa saga.


O resgate de Aelin das garras da Maeve é provavelmente uma das coisas que mais movimenta o leitor no começo do livro. A cada página, queremos saber não somente se Rowan, Gavriel, Lorcan e Elide terão sucesso na missão, mas qual será o estado psicológico em que encontrarão a rainha de Terrasen. As cenas em vemos Cairn a torturando não são descritas em mínimos detalhes, mas são o suficiente para deixar o leitor arrepiado. O nosso olhar sobre Maeve também é diferente a partir da revelação do livro anterior de que ela é uma rainha Valg. Muita coisa faz mais sentido a partir disso e fica fácil entender por que ela usa métodos tão repulsivos para tentar ter a Fireheart como sua aliada.


Em outro núcleo da história, temos Manon fazendo o possível para encontrar as Crochans, o que só acontece com a ajuda crucial de Dorian. Mas o que torna esse ponto prazeroso e, na minha sincera opinião, melhor que o núcleo principal é a árdua tarefa de fazer com que aquelas bruxas aceitem uma Ironteeth como sua rainha. E não para por aí: Manon já havia sido apresentada na história como sendo uma assassina voraz de Crochans. A evolução da Manon como personagem ao longo da série é talvez uma das mais interessantes e verossímeis.


Dorian está junto da Manon no começo, mas não está muito satisfeito. As bruxas desistiram de procurar a terceira Wyrdkey por entenderem que é uma busca praticamente impossível. Elas entendem que encontrar as Crochans é mais importante no momento. O rei de Adarlan discorda, mas opta por não entrar em conflito com as bruxas. Coloco aqui um ponto que me incomodou muito na narrativa. Não buscar a terceira chave foi uma decisão tão sensata que é difícil imaginar o motivo de alguém se opor. O leitor não precisa ser nenhum gênio de dedução para imaginar que a última Wyrdkey está em Morath e que aquele grupo, tendo duas Wyrdkeys em mãos, não deve correr esse risco. Aliás, a forma como Dorian descobre a localização da chave é tão ridícula que dá vontade de berrar com a autora. Sinceramente, eu não imaginava respostas caindo magicamente do céu no último livro da série.


A história do Chaol segue interessante. O romance dele com a Yrene ganha um adicional bem interessante com a gravidez da nossa querida curandeira. O ponto alto, porém, foi a reunião dele com o pai, que se provou ser um homem detestável até a última gota. Aqui entra mais uma crítica. Ninguém é inteiramente bom ou mal e isso faz parte da construção de bons personagens. O pai do Chaol é ruim mau o tempo inteiro e em todos os aspectos imagináveis, não cedendo em nada e aparentemente não dando valor a nada além de seu título e sua fortuna. Obviamente, é um personagem criado para ser detestado, mas que poderia ser muito mais interessante.


Os personagens no norte mostram desde o começo que Terrasen está sendo devastada gradativamente e servem para criar um senso de urgência no leitor. Ficamos o tempo inteiro torcendo para que algum dos aliados os alcance a tempo. A figura antipática do Darrow é preservada por um bom tempo e as atitudes dele me incomodam muito (desde Empire of Storms, na verdade), mas vou falar disso mais adiante.


Kingdom of Ash é um livro que fecha bem a série e, definitivamente, é uma leitura muito melhor que Tower of Dawn, mas poderia ser melhor em muitos aspectos. Ainda assim, o final está à altura da série e deixa um gostinho doce no leitor. Valeu apena acompanhar a trajetória da Aelin até a última página.


Abaixo, vou discorrer sobre pontos adicionais voltados para quem JÁ LEU o livro. CONTÉM SPOILERS!


Primeiro, vou falar sobre os pontos que eu não gostei. Não vou me limitar ao Kingdom of Ash.


Política


Ao final de Queen of Shadows, com Rifthold sendo retomada e Aelin retornando com sua corte para Terrasen, eu esperava que o aspecto político fosse ganhar mais importância. De certo modo, ganhou mesmo, especialmente com a tentativa de convencer Rolfe a se aliar à causa e com o sexto livro inteiro, mas nas mãos do Chaol.


A forma como Darrow age para impedir Aelin de retornar a Terrasen foi, no mínimo, esquisita. Os feitos dela em Rifthold, libertando a nação do domínio de Adarlan, deveriam ser mais que suficientes para que ela fosse recebida com respeito, ainda que houvesse margem para questionamentos, mas tudo parece ser ignorado apenas para que Aelin continue como uma aventureira errante.


Em Anielle, quando Aelin precisa negociar com o pai do Chaol, ela simplesmente pede para o amigo usar o fato de que ele está hierarquicamente acima do homem para conseguir o que quer. Não há discussão, não há negociação. Anterior a isso, a postura do Lorde Westfall é bizarra. A cidade dele acaba de ser salva e ele tem a pachorra de reclamar, dizendo que a explosão da barragem destruiu boa parte de Anielle. Como eu citei anteriormente na resenha, vemos uma construção problemática do personagem, porque mesmo que ele seja essencialmente um cara mau, ele veria valor em se aliar com alguém capaz da demonstração de poder que Aelin fizera na frente de todos. Não acho que uma redenção devesse ter acontecido, mas negociações políticas de verdade.


Até Tower of Dawn, que é o livro que é literalmente a história do Chaol tentando convencer um reino a lutar, a parte política fica muito aquém do desejável. A impressão que passa é que a Sarah J. Maas prefere fugir da complexidade desse tipo de discussão e focar na ação (e no romance).


Batalhas


Sarah J. Maas esperou o último livro da série para finalmente iniciar a guerra. Obviamente, uma guerra é feita de muitas batalhas e não dá para descrever todas em mínimos detalhes, mas ela me passou várias vezes a impressão de que estava correndo. Isso é muito irônico de se relatar após ler um livro de quase mil páginas.


Eu entendo quem gosta de romance, mas acho que é par romântico demais para uma saga só. Desenvolver todos esses relacionamentos leva espaço, o qual poderia ter sido usado para um desenvolvimento melhor da guerra em si. E as batalhas nem foram a pior parte.


Objetivos Fáceis


Batalhas corridas incomodam, mas a gente consegue entender, até porque fomos brindados com dois excelentes combates: Anielle e Orynth foram de fazer o coração saltar pela boca. Agora, o Dorian pegar a terceira Wyrdkey sozinho e explodir Morath, enganando a Maeve e o Erawan foi brincadeira. A expectativa era de que essa parte da história seria alcançada com enorme dificuldade e custando sacrifícios daqueles que fazem o leitor chorar.


Aí vem o ponto do ritual para acabar com aqueles artefatos malditos. Aelin e Dorian têm a ideia, que me parecia razoável, de fazerem o sacrifício juntos. Oras, faz sentido que, se a quantidade de magia de ambos é exatamente o necessário, metade de cada seria o bastante e nenhum morreria. Mas os deuses pareciam determinados em tirar vidas, não em forjar a "fechadura" (não sei que termo foi usado na edição em português). Aí aparece o pai do Dorian literalmente do nada e é comentado que o homem não se lembra do próprio nome. O rei assume o lugar do filho no ritual, é consumido e Aelin vai lá tentar barganhar com deuses. Ela é traída, Elena é morta cruelmente e a Mala decide dar parte de seu poder para rainha de Terrasen, que mata todo mundo mesmo assim! Eu não me conformo que a Mala não tenha tido um destino diferente. Eu acho que teria sido muito mais legal se ela tivesse se sacrificado e transferido todo o seu poder para a Aelin, que na sequência mataria os deuses. Parte dessa minha sugestão hipotética é por causa do grande problema que surge a seguir.


Erawan e Maeve foram exaustivamente descritos ao longo da série como seres milenares e extremamente poderosos. Durante o embate final com a Maeve, inclusive, ela chega a mandar o "Eu sou uma deusa", dizendo o tanto que ela era poderosa e que os três reis Valg tinham ido atrás dela por causa de como ela era poderosa. Aí, o Erawan é morto praticamente sem lutar e a Maeve até dá um pouco mais de trabalho, mas morre super rápido também. O caso da Maeve é ainda mais grave se lembrarmos que a Aelin estava só com uma pequena fração do seu poder e deveria ter sido presa fácil. Pra mim, foi o típico combate em que a personagem usa sua ficha de protagonista para ganhar uma batalha que ela perderia em qualquer circunstância minimamente aceitável.


Tower of Dawn


Precisava mesmo de um livro solo para o Chaol? Sinceramente, acho que a história dele podia ter sido contada dentro do Empire of Storms e em uma forma muito reduzida. Eu fiquei o tempo inteiro esperando pela relevância das revelações do sexto livro e acho que não justificou a existência do livro. Aceito os argumentos contrários e a opinião de quem gostou, mas eu preferia mil vezes uma obra a mais para dar uma dissolvida no mar de coisas que ocorreram em Kingdom of Ash.


Acho que o que mais me incomodou foi a questão dos livros escritos com Wyrdmarks. Eles tiveram utilidade no final, mas nenhuma que não fosse facilmente resolvível de outra forma. Foi feito um drama tão grande sobre o conhecimento contido nos livros da Torre Cesme, especialmente esses, que ficavam até escondidos. Aí chega lá e não tem nada demais neles.


Eu não estou ignorando o fato relevante de que os curandeiros podem matar os Valgs, que são um tipo de infecção, mas não precisaria de um livro inteiro para justificar isso. Pelo menos, não um livro sem a Aelin logo após ela ter sido enfiada em um caixão de ferro pela Maeve!


Passadas as minhas reclamações, vamos ao pontos positivos. A maioria já está lá na primeira parte da resenha, então faço apenas um pequeno complemento aqui.


Manon


O que falar dessa bruxa maravilhosa que eu achava um saco lá quando a personagem foi apresentada e que cresceu de tal maneira que se tornou a minha favorita na reta final. A Manon do final não é a Manon do começo, mas a essência continuou. A Sarah J. Maas foi brilhante ao trabalhar o amadurecimento da personagem.


Manon aprende a amar, mas com muita personalidade. Ela não se converte em uma menina boba e melosa, mas ela entende a questão da entrega pelos outros e do poder da união. Manon percebe seus erros passados e se arrepende deles, mas não é forte o suficiente para falar a um acampamento de Crochans que tinha assassinado a própria irmã.


Manon é verossímil do início ao fim. Ela muda, mas continua ela mesma. Sensacional.


Narrativa


A forma como a Sarah J. Maas narra precisa ser destacada, embora não seja novidade para quem alcançou o sétimo livro. Eu acho impressionante a capacidade dela de nos pegar pela mão e puxar pelo enredo com aquela fluidez toda. Nenhuma parte do livro é chata. Nenhuma. Podemos reclamar de eventos que nos incomodam ou de coisas que gostaríamos que tivessem sido diferentes, mas a leitura é agradável demais da primeira à última página.


Edição maravilhosa


Tive o prazer de ler o livro na edição de capa dura da Bloomsbury. O papel é uma delícia de tocar e o livro se encaixa perfeitamente na mão. A diagramação é maravilhosa e a capa é lindíssima. A experiência do livro vai além da leitura e tudo isso que eu citei fez com que eu tivesse ainda mais prazer ao curtir Kingdom of Ash.


Considerações Finais


Se você leu os seis primeiros livros da série, eu não consigo imaginar nenhum motivo minimamente razoável para não ler o último. Kingdom of Ash deixa a desejar em muitos quesitos, mas, honestamente, é uma leitura extremamente prazerosa. Eu devorei o livro e ele evocou sentimentos em mim de ponta a ponta. Eu criei um vínculo com os personagens e será triste dar adeus.


Agora, se você quer começar a série do início, devo dizer que vai encontrar uma história divertida e bem conduzida na maior parte do tempo, mas com algumas falhas, muito por conta de ser o primeiro trabalho da autora. A série melhora à medida que avança. Dá para perceber o tanto que a Sarah J. Maas evoluiu ao longo desses livros. Eu indico a saga Trono de Vidro sem pensar duas vezes.


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